sábado, 30 de abril de 2011

MST deve iniciar batalha contra corredor logístico de Eike Batista em Campos

Texto abaixo assinado pelo pesquisador e professor da UERJ, Paulo Alentejo. 

Quinze anos depois
Não, felizmente não se trata de mais um massacre com a perda de vidas humanas, porém, o que está acontecendo em Campos dos Goytacazes e arredores, no norte do estado do Rio de Janeiro, é também uma inominável violência contra os trabalhadores rurais, justamente neste ano em que faz 15 anos do Massacre (e da impunidade) de Eldorado dos Carajás.
Em conluio com prefeituras locais – uma das quais administrada por uma ex-governadora do estado – um dos maiores empresários brasileiros está patrocinando ações que ameaçam a sobrevivência de milhares de trabalhadores rurais.
No entorno do porto que está sendo construído no município de São João da Barra, centenas de posseiros, sitiantes e pequenos proprietários estão sendo vítimas de assédio moral e pressão psicológica para abandonar e ou vender suas terras para a expansão da área industrial planejada para ser instalada junto ao complexo portuário. Famílias idosas e agricultores analfabetos são alvos privilegiados dessas pressões.
Porém, a maior violência ainda está por vir. O empresário e a ex-governadora, atual prefeita de Campos, estão planejando a destruição do maior assentamento rural do estado do Rio de Janeiro, o Zumbi dos Palmares, onde vivem e produzem mais de 500 famílias de trabalhadores rurais.
Em nome da construção de uma variante para a rodovia BR-101, visando retirar o trânsito da área central da cidade de Campos, o assentamento será destruído.
Há décadas, existe um traçado planejado para esta variante que passaria a oeste da cidade, interligando-se com a RJ-158 e a BR-356, conectando as localidades de Ibitioca, ao sul da cidade de Campos, e Travessão, ao norte. Entretanto, visando atender, sobretudo, os interesses do empresário (e de especuladores), o traçado da variante foi alterado. Agora, ao contrário de contornar a cidade por oeste a proposta é contorná-la por leste, muito mais próximo do porto que está sendo construído pelo empresário. Por esta proposta, a variante da BR-101 atravessaria o assentamento Zumbi dos Palmares, o que implicaria, de imediato, a eliminação de vários lotes para dar lugar à rodovia, e na seqüência um enorme processo de especulação imobiliária que afetaria o restante da área.
Tal plano – que está sendo desenvolvido a toque de caixa sem qualquer consulta aos trabalhadores que serão atingidos pela mudança do traçado previsto – também está sendo feito à revelia do Incra, órgão responsável pela reforma agrária e dono das terras onde se planeja construir parte da nova rodovia.
No assentamento Zumbi dos Palmares são produzidos alimentos para o abastecimento da cidade de Campos e até da capital do estado. Isto, no entanto, não está sendo levado em consideração pelas autoridades locais, nem pelo governo federal, pois o DNIT já concedeu autorização para o novo traçado, sem sequer atentar para o fato de que este se daria sobre terras de outro órgão governamental.
Portanto, o que está acontecendo hoje no Norte Fluminense é mais um caso de violência contra os trabalhadores rurais e um atentado contra a já tão combalida reforma agrária. Em nome dos interesses de grande empresários e especuladores de terras, trabalhadores são expulsos de suas terras, a produção de alimentos é eliminada e o pouco que foi realizado em matéria de reforma agrária no Rio e no Brasil é destruído. Resta à sociedade brasileira, fluminense e campista se posicionar: o que vale mais? A vida ou o lucro?
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2011.
Paulo Alentejano – Professor do Departamento de Geografia da FFP/UERJ, Professor Visitante da EPSJV/Fiocruz e Diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros.

Um comentário:

  1. A vida vale mais mas há muitas formas de se perpetuar a vida e muitas vidas de se gerar lucro.

    Os sem terra ocupam as terras improdutvas, se essa terra terá uma utilidade os sem terra deve procurar uma outra terra devidamente improdutiva.

    Alimento se produz em qualquer terra produtível a estrada só será viável ali naquela região.

    O lucro quando bem distribuído pode melhorar a vida de muitos. A vida não deve ser escrava do lucro, mas o lucro um objeto da vida. Mas a questão aqui não
    é lucro vesus vida, a questão é sobre o direito adquirido, inflexibilidade, pormenores legais e sindrome do coitadinho. Querem explorar a velha dicotomia vilão explorador e vítimas. Será que todo progresso tem que ser permeado por esse drama? Não há negociação, diplomacia?

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